Dias de paz na CV (título provisório)

Adaptado de “Assassinatos da Rua Morgue”, de E.A. Poe

A despeito das tradições psicológicas, as melhores façanhas mentais costumam ser objetos pouco suscetíveis a análises prévias. Nesse campo, só confirmamos uma hipótese depois dos efeitos se manifestarem. O número de fracassados com o QI maior que o do Einstein atesta que quantificar inteligência e engarrafar peido têm a mesma consistência prática. No mundo real, nunca ninguém crava nada. Mas sabemos que façanhas existem, claro, e elas simplesmente estão aí para nos desafiar. Quando esses fenômenos se manifestam no grau do incomum, a “análise científica” rende-se ao brega:  eis que entra em cena o Pedro Bial e joga todo seu repertório de obviedades sobre algum prodígio. Daí a coisa pode se confundir com um truque e perder seu apelo pra bunda da Sabrina Sato. Mas não vou aqui vitimizar o cara que calcula mais rápido que uma Facit ou o que decorou a marca da cueca que usou no último finde do verão de 98. Tenho consciência de que o portador de grandes habilidades mentais, mesmo ele, não está livre da vaidade. A propaganda e o encantamento público são fontes inesgotáveis de prazer. Do outro lado da linha há um marombado tirando foto do bíceps no espelho da academia e o Chico Buarque, que vive do carisma que conquistou a platéia lá nos anos 70. Mas fora (e acima) do show business, há o sujeito cujas melhores faculdades – constrangedoras demais para serem exibidas em público – são as de analisar as coisas ao seu redor com uma rapidez de raciocínio que beira o sobrenatural.

Esse tipo de gente encontra prazer até numa viagem de elevador. Qualquer coisa, por mais trivial, vira oportunidade de exercer  talentos. As poucas demonstrações que o decoro lhe permite exibir deixam o interlecutor de cabelo em pé, e por isso tanta gente o recrimina por ser “uma pessoa difícil”, “sincero demais”, “enxerido” ou “fofoqueiro”.

Pode-se dizer que o homem analítico obtém suas habilidades no estudo meticuloso do raciocínio lógico, o que é correto segundo a filosofia clássica; porém suas conclusões – apesar de serem a própria essência do método – obedecem a um estrito jogo da intuição.

– O que vocês estão fazendo, seus merdas? O maior pecado da cristandade é usar peças de xadrez para jogar damas.

– Não gostamos de xadrez; e o maior pecado que existe é não usar a vida para se divertir.

– Preferir damas a xadrez é sinal de pobreza intelectual, Duran.

– Você vai me perdoar, mas no xadrez não há nada de intelectual.

– Como é?

– Não se pensa de verdade para jogar xadrez, apenas calcula-se as chances. E isso pode virar um mero jogo de memória. Nas damas é preciso muito mais maturidade, uma vez que todas as peças têm poderes iguais.

– Isso só significa que tu não tens condições de elaborar estratégias diferentes para seis tipos de sujeitos diferentes.

– Graças a Deus nunca precisei disso. Mas, se precisar, juro que não vou pedir para que eles andem em “L” ou em linha reta, seria inútil, para não dizer idiota. – Dama! – gritou o João para mim, ao alcançar a última linha do meu território com um peão. Eu tentava me concentrar no jogo enquanto ele discutia com nosso “patrão”, o seu Sabá, que nos dava servicinhos extras do “escritório”. O seu Sabá era dos mais poderosos dos assessores políticos da cidade e tinha um “setor” de negócios escusos que despachava no tal escritório. A nossa condição de novato por ali não nos permitia aquele grau de rispidez nas conversas com ele, e talvez o mais experiente dos funcionários jamais tivesse respondido daquele jeito para o patrão. Essa ideia me fazia gelar (e perder a concentração) a cada réplica da conversa. Pra piorar, João seguia na sua linha inflexível: – Seu Sabá, as damas fazem um serviço muito melhor no que diz respeito ao reconhecimento dos outros. É preciso se lançar no espírito do oponente para aprender como seduzi-lo. A proficiência demanda capacidade de vencer uma guerra pessoal com os olhos; toda hesitação, toda impaciência, um sorrisinho irônico, um movimento irrefletido… tudo isso são variações de uma coisa só: um homem frente à possibilidade de se dar bem. Duas ou três mesas depois, você reconhece a reação do outro diante das fatalidades; na saúde, na doença, na miséria, no medo, etc etc. Fazendo simples analogias, as damas lhe permitem supor estratégias para encalacrar o adversário usando seus vícios e virtudes.

Na época em que trabalhamos pro Sabá, eu já conhecia o poder de análise do João – ou do “Duranz”, como ele ficou conhecido mais tarde. Hoje, nesse âmbito, as ciências psicológicas já nos trazem deduções precisas sobre essa característica de maluco… e ficou claro que esse tipo não pode ser confundido com o tipo puramente engenhoso. O tipo engenhoso é aquele cara que pode passar num vestibular dos Agulhas Negras em primeiro lugar, mas bancar o idiota em áreas fora das teorias matemáticas. Hoje é possível fazer uma analogia entre engenhosidade/análise e fantasia/imaginação de modo que a conclusão, meio óbvia, é a de que o homem analítico é necessariamente engenhoso, assim como o homem de imaginação é obrigatoriamente um fantasista inveterado. Prosseguindo: o homem de imaginação rica quase sempre é um analítico; enquanto o homem de engenhos é incapaz de especular suas fantasias para além delas mesmas, isto é, ele não tem acesso livre ao campo da imaginação.

Tomando todas essas considerações como premissas, ficará muito mais claro identificar o ponto-chave dos acontecimentos que se passaram no meu bairro naquela madrugada de 2007…

Como toda Ciudad Vieja que se preze, a Cidade Velha de Belém é um bairro perigoso, apaixonante e meio podre. As fachadas dos prédios – antiquíssimos, imemoriais – emprestam às ruas uma atmosfera meio lúgubre, de nobreza decaída. A natureza do lugar parece se confundir com a vida dos que o habitam. Todos os residentes que conheci por ali, invariavelmente, ou eram de linhagens nobres (e arruinadas), ou eram pobres diabos (estudantes, prostitutas, travestis, portugueses…) Enquanto eu me encontrava nesta segunda categoria de pessoas – era universitário -, meu colega João Luiz, o Duranz, atendia tanto à primeira quanto à segunda tipologia: era um universitário falido, além de ser descendente de portugueses, ter uma irmã puta, escapando ele mesmo do assédio das bichas da Riachuelo. Uma das coisas que pode me explicar a existência de um cara como o João é justamente isso: seu ego havia sido reduzido a uma tal grau de miséria que seu caráter sucumbiu à dor, e isso o fez desistir de enfrentar o mundo. Infelizmente, quando o sujeito desiste de encarar a vida como ela é, só existem dois caminhos possíveis: transformar toda a realidade em variações do seu bel-prazer; ou o suicídio. É claro: todas essas formas não passam de delírios do escapismo.

Como o João não se matou, fica clara qual foi a loucura que o dominou durante sua história. Mas a vida de um homem marcado pela derrota dificilmente deixa de ser miserável. O João tinha consciência disso e não se deixava abater pela falta ou fartura de condições materiais. O único luxo que ele desfrutou durante o tempo em que moramos juntos foi o acesso irrestrito aos livros; isso porque o Tomás do sebo não se importava em lhe fazer empréstimos sem esperar pelo pagamento.

Foi lá mesmo no sebo do Tomás (na saída da Óbidos com a Tamandaré) que eu conheci o João Duranz. Na verdade eu já o reconhecia da Universidade, mas a coincidência de estarmos naquele lugar fétido, procurando pelo mesmo volume (que não era acadêmico), fez nossos contatos se estreitarem a ponto de virarmos verdadeiros amigos.

– Tô procurando o Cão da Meia Noite, do Marcos Rey. – disse ele ao Tomás.

– Acho que o dono não vai deixar você passear com ele. – então o Tomás apontou para mim, que folheava o Cão, apoiando o cotovelo numa escada articulada.

O João me convenceu a fazer um empréstimo de dois dias sobre o livro, sendo que eu ficaria devendo somente a metade do preço ao Tomás e ele a outra – que nunca seria paga, naturalmente. Fechei o acordo. Os dois dias passaram e nós nos encontramos novamente. Combinamos de fazer o mesmo outras vezes, com outros volumes, de modo que o Tomás se fodia enquanto minha amizade com o João aumentava formidavelmente. Logo estávamos nos encontrando quase todos os dias. Eu gostava de ouvir seus pequenos escândalos, que ele contava com todo o ardor dos egoístas quando falam de si mesmos. Me diziam que eu não deveria confiar no meu novo amigo porque, além de cleptomaníaco, ele era um péssimo escritor – e todo prosador possui vícios insanáveis. Pensei em dissuadi-lo para que ele investisse em poesia, mas esqueci essa ideia pois eu não me sentia em condições de aconselhar um cara cuja vastidão de leituras e inventividade me pareciam sublimes. O João me ensinava, essa era a verdade. E eu senti que a amizade com um homem assim poderia me trazer vantagens inestimáveis. Então um dia eu lhe confiei esse sentimento mesquinho. E a resposta veio, na maior tranquilidade, em forma de convite:

– Então venha morar comigo, Ronaldo.

– Morar contigo?

– Tens fome, teus olhos não mentem. Tens que experimentar uma verdadeira vida de escritor, cara, e às vezes é preciso se refugiar. Não dá pra fazer literatura com esse barulho. A felicidade e a miséria nos espreitam a todo intante, em todos os lugares. – enquanto João falava uma jovem morena desfilava na calçada com um aparelho de mp3 em forma de rabeta, o objeto emitia um ruído de broca que talvez fosse um technobrega.

– Não sei como, mas eu consigo te compreender.

– É preciso não dar mole pras facilidades da vida nem pras seduções da morte. E pra isso, o meu refúgio é perfeito. Quem souber do modo como viveremos vai pensar que somos dois loucos, embora dois loucos mansos. Mas que se foda. Nenhum intrometido como esse Tomás aí vai saber de nada. Aperte a minha mão, Ronaldo, e não se preocupe mais: vamos manter nossa localização em sigilo. Existiremos só para nós dois, isto é, para a literatura. A bunda-molice a gente deixa pra fora. – eu estive maravilhado com a sinceridade daquelas palavras, eu queria mergulhar nelas e apoiei imediatamente a ideia de que o mundo se desdobrasse segundo suas ordens – Ah, tu ficas com a luz e o supermercado, deixa que eu me viro com o IPTU.

Um bom filho da puta era o João.

 

(continua…)

Sobre cretinice…

Sobre cretinices, carolices e demais paumolecências que assolam a humanidade: “É preciso saber jogar por todo campo: do cabaré ao convento — ou melhor, do convento ao cabaré”

Facundo Cabral

Etimologia do caralho (workshop)

CARALHO – é o nome da cestinha que fica no alto do maior mastro de uma caravela, lembrando um objeto fálico. Logo, os marujos portugueses mais piadistas começaram a dizer “o meu é tão grande quanto um caralho”, e temos um palavrão.

PIROCA – em português arcaico significa “careca”. Daí quando o cabeleireiro comete um erro grosseiro, fala-se até hoje em “pirocado”. O paralelo do careca com o pênis não tardou.

– este singelo texto circula nas internerds desde o tempo do orkut, quando o Politicamente Cuzão não enchia tanto o saco e o samba abaixo apavorava as meninas de família sem o menor pudor… Alô, meu povo caralhense!!!

Hitler também preferia os cachorrinhos

Você aí, preocupadíssimo com os gorilas da Sumatra e com as borboletas do Afeganistão, saiba como e quando começaram a usar a sua compaixão como retórica política:

Anúncio da iniciativa alemã de proteção aos animais, proibindo seu uso como cobaias de laboratório.

Quem criou essas leis de defesa dos animais?

Isso mesmo, Hitler.

hitler_ecologista

(fonte: Sérgio Martorelli)

Não preciso nem lembrar o que aconteceu com os humanos no meio dessa história. Por outro lado, não vou alimentar a idéia de que acalentar um gatinho implica em ser genocida. Eu me comovo com Nietzsche e Raskólnikov beijando éguas, eu sou da tese de que um gato leva a outro, etc etc. Mas preme lembrar que Hitler era um fofo, do tipo que assinaria embaixo o “quanto mais conheço os homens, mais gosto do meu cachorro”; preme lembrar que as preferências pessoais dele – por mais tendenciosas que fossem – viraram implacáveis institutos criminais.

Isso tudo são memórias… porém vou desfocá-las um pouco para recorrer ao que está acontecendo agora, com a gente, no nosso idílico e tropicabundo Brasil:

Artigo 132 do projeto para o novo Código Penal.

Omissão de socorro
Art. 132. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo, ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena – prisão, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal grave, em qualquer grau, e triplicada, se resulta a morte.

Leiam, então, o que vai no 393:

Art. 393. Abandonar, em qualquer espaço público ou privado, animal doméstico, domesticado, silvestre ou em rota migratória, do qual se detém a propriedade, posse ou guarda, ou que está sob cuidado, vigilância ou autoridade:
Pena – prisão, DE UM A QUATRO ANOS.

… e o que dispõe o Artigo 391:

Praticar ato de abuso ou maus-tratos a animais domésticos, domesticados ou silvestres, nativos ou exóticos:
Pena – prisão, de um a quatro anos.
§ 1o Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 2o A pena é aumentada de um sexto a um terço se ocorre lesão grave permanente ou mutilação do animal.
§ 3º A pena é aumentada de metade se ocorre morte do animal.

A imitação do amanhecer (por Bruno Tolentino)

III-165

Ó Via Láctea, ó luminosa irmã — segundo
Apollinaire — dos fios brancos da água vã,
a água furtiva que visita o chão do mundo
e vai-se evaporando também, ó minha irmã
mais ancestral, mais nebulosa, ó vaga lã
dos vãos novelos em que eu ando, um moribundo
no intemporal, sinal apenas de que o fundo
de tudo e de mim mesmo é a solidão pagã
da alma febril que se evapora e historiciza,
ó ampliação de Alexandria, ó via branca
e tenebrosa, é tudo a rosa que se arranca,
pétala a pétala, às profanações da cinza,
ó Via Láctea, ó minha irmã que pões a tranca
da imensidão no coração do que agoniza…

– o grifo é meu.

Fator Rússia

Estudar Rússia é uma questão de sobrevivência intelectual. Emprego a palavra “estudar” no sentido de tentar entender, que pode se estender a passar a vida tentando entender. Eu, por exemplo, pra elaborar a pequena frase que encabeça esse texto levei quase uma década.
Essa pequena frase é uma daquelas certezas que crescem com o cara, amadurecem, até que um dia, inopinadamente, vira verbo, como um grito de eureka na banheira, como uma ideia sofisticada durante um pileque, ou mesmo no meio de uma crise de hérnia passando o arquipélago do Bailique. Essa pequena frase é aquele tipo de coisa que caminhou lentamente da mera desconfiança pra clareza absoluta, sem escapar incólume pelas armadilhas do achismo.
Só consigo afirmá-la porque ela já se mostrou madura, afinal, já não era sem tempo: lá se vão nove anos desde que entrei em contato pela primeira vez com o mundo russo (com O Idiota). Desd’aí, sem fazer alarde, o número de coisas que foram chegando e não passavam pelo, digamos, “crivo-Rússia” foi ficando cada vez menor – e ultimamente beirou o zero.
Saindo dos giros clássicos, resolvi encarar um escritor pós-URSS: Vladímir Voinóvitch (Propaganda Monumental). O resultado desta recente experiência me atrevo a resumir: a similaridade do humor, da miséria e do pedantismo das personagens russas com o Brasil (em especial Belém) não é coincidência. As histórias russas são tão extraordinariamente vivas para nós – que vivemos tão longe – que lá pelas tantas soou estranho o fato de eu não conseguir passar uma cantada no mesmo idioma da Maria Kirilenko.
Mais que isso (bem mais que isso) foi esquisito perceber como uma coisa tão incorporada em TODOS os fenômenos modernos é encarada com tanta sordidez e estranheza, quando deveria estar tão próxima de nós como está a cultura americana, a realeza britânica, ou mesmo esses programas do neo-budismo, do esoterismo romântico, do africanismo, entre outros badulaques que o brasileiro sincretiza no seu dia-a-dia sem a menor cerimônia.
Esqueça: não vou começar a pregar algum tipo de filo-eslavismo. Até porque seria desnecessário: já vivemos num, ainda que poucos percebam. O triste é que vivemos o mais pobre, pretensioso e deplorável da experiência russa. E o estranho é viver dentro de tais e quais condições (artificiais) e passar batido por elas. Encaramos o nome de Vladimir Ilitch Ulianóv como se tratasse de um alienígena quando, na verdade, foi um sujeito que se transformou em um em pleno século XX, foi mumificado depois de morto, e costumava atender pelo vulgo de Lênin.
– E o que diabos isso tem a ver conosco?, como a múmia dos soviets interfere no preço da farinha?
A maioria das pessoas, inclusive as mais bem educadas, não acredita que sobre seu destino pesa a mão da história. À maioria parece que a humanidade alcançou um ótimo grau de maturidade e tudo será como deve ser hoje, e assim as coisas vão se acumulando sem levantar suspeitas. Se diante de nossos olhos acontece algum fato extraordinário, entendemos aquilo como mero resultado da coincidência de coisas ocasionais – “a ocasião faz o ladrão”. Tão logo o noticiário toma um novo rumo e a noite esfria, logo nos parece que tudo vai voltar a ser como era antes. Uns desejam que seja assim, outros temem que assim seja. Nesse novo Brasil das manifestações, vamos nos dividindo entre os saudosos do regime e os que temem os “anos de chumbo”. Ninguém parece compreender que o tempo não volta atrás.
Seria preciso um esforço acadêmico pra identificar influências soviéticas em coisas tão triviais como o litro da farinha. Obviamente o preço das coisas tem alguma relação com a administração atual – sobretudo se a farinha for produzida pelas FARCs, se é que você me entende. Entretanto, prefiro investir minhas energias concentrando-me no óbvio, que geralmente é onde estão as melhores surpresas. Então vamos a ele, ao óbvio:
No post anterior publiquei a carta em que uma cineasta revela os motivos pelos quais resolveu abandonar o coletivo Fora do Eixo. Lá pelas tantas, ela se revela surpreendida pelo fato do coletivo não lhe remunerar pelas participações em palestras, convenções etc, e ainda querer se apropriar de sua obra. Será que a nossa cineasta não desconfiava nada de quem ela tava se metendo?
                … ora, o pessoal do Fora do Eixo é o mesmo que apoia esses movimentos de royalties free, pró-pirataria, etc etc – como discutir direitos com quem caga no conceito de propriedade privada? É uma atitude imprópria ao tipo de ambiente em que eles se habituaram, de modo que “de onde vem a grana?” torna-se uma pergunta indiscreta, além de boba e carente de sentido.
O movimento Fora do Eixo reza na cartilha do marxismo cultural, ou por outra: remunerações, castas hierárquicas, direcionamentos, tudo obedece (com o devido rearranjo local) à velha prática das instituições de cepa comunista. Vejamos o exemplo no livro do Voinóvitch:
“O movimento Por Você e por Aquele Parceiro nasceu na época em que o povo, cansado da construção geral do comunismo, ansiava por estímulos materiais. Deram-lhe, então, em vez de dinheiro e uma vida melhor, novos e radiosos ideais; lançaram-lhe ideias patrióticas. Armado ideologicamente, o povo atendeu ao apelo do Partido e do Komsomol, ou, em alguns casos, à determinação do juiz, e derrubou a taiga, abriu canais, desbravou terras virgens, estendeu a ferrovia Baikal-Amur. Enquanto isso, vivia em tendas e barracas e comia porcarias impensáveis. E para que o povo gastasse as suas forças, calorias e saúde com maior entusiasmo, o Partido o premiava com diversas condecorações, medalhas, insígnias, diplomas, flâmulas e bandeiras da emulação socialista, além de criar pseudomovimentos, simulando que o próprio povo os teria concebido. Havia muitos deles.”
 – Alô, dona Beatriz Seigner!, algo lhe soa familiar?
                O Fora do Eixo é um desses “muitos deles”, a milhares de quilômetros, há décadas do “Por Você e por Aquele Parceiro”. Mas aqui e agora a grana e a qualidade de vida, como vemos na carta da Beatriz, continua sendo transformada num valor inferior às condecorações, à mera possibilidade de galgar postos de liderança ou de se aproximar de um líder. Nesse esquema, o peido do Pablo Capilé pode virar um mantra na boca de seus seguidores. Lá dentro ninguém duvida de ninguém, não se vê discordâncias, tudo é unânime e inquestionável. Agora, será que tudo num livro escrito sobre a Rússia dos anos 60 é mera coincidência com a movimentação interna do Fora do Eixo?, será que os nossos movimentos civis têm que ser assim, com esse clima de neo-socialismo e camaradagem insegura?
                De qualquer maneira, nunca vi arte, partidarismo e administração pública se misturarem e daí sair coisa que preste. Esse tipo de arte fede. O artista fica condicionado a puxar o saco de um líder – que metonimicamente é chamado de “Povo”. Uma hora ninguém consegue mais suportar a nhaca dessas rodinhas de artistas e então esses viados começam a acumular sucessivos fracassos na carreira (vide o caso Ziraldo, que sobrevive de indenizações dos tempos da ditadura e conchavos afins).
                A carta da Beatriz Seigner é um daqueles documentos pra imprimir e ser analisado com muita paciência. Mas vamos combinar: sobrou ingenuidade. A própria autora parece não se dar conta de estar num setor onde esse tipo de articulação canhestra é moeda corrente. O dinheiro que você, dona Beatriz, se desespera em não encontrar só aparece depois de um longo trajeto de dedicação ao “Partido”. Sendo franco, não acredito que você desconheça isso. O próprio tema do seu filme e vários deslizes na sua carta levam a crer que você sabe muito bem onde se meteu. Minha tese é que salgaram a sua bebida no Fora do Eixo e você não gostou. E a coisa vai morrer numa discussão interna.
                Quero dizer: pela hierarquia tácita (talvez escrita em algum lugar) incluem-se na folha de pagamento da administração pública os funcionários-padrão e os integrantes da classe artística – cineastas, ex-tropicalistas, atores – bem relacionados com as autoridades. Inacreditável alguém do ramo nunca ter desconfiado disso. Yes, nós temos bananas e uma ditadura. A ditadura perfeita tem, como dizia Aldous Huxley, “a mesma aparência de uma democracia. Uma prisão sem muros onde os presos não sonharão sequer com uma fuga. Um sistema de escravatura que, graças ao consumo e à diversão, os escravos terão amor pela servidão”.
                Por fim, outro exemplo óbvio de influência soviética em nosso Brasil Varonil é a moda vândala que pegou o país de jeito. Tenho dúvidas quanto à fonte, mas andam dizendo que há um campo de treinamento no Mato Grosso onde essa gente aprende a fabricar coquetéis molotovs, escudos de madeirite, etc. Eles supostamente estão sendo treinados por guerrilheiros experientes e líderes do MST. Sendo que guerrilheiros experientes, como já é de conhecimento público, foram treinados em Cuba nos anos 70. E o castrismo, como também é de conhecimento público, foi sustentado pelo politburo com dinheiro da KGB – cujos membros hoje são os políticos e oligarcas russos que compram meio mundo num final de semana. (Aliás, Molotov era o pseudônimo de um antigo diplomata soviético)
De qualquer modo fica o alerta: especula-se que os próximos alvos dos idiotas incendiários estão previstos para o desfile do 7 de Setembro e o ROCK IN RIO..
Obs: veja os conceitos gramscianos de “intelectual orgânico”, “ocupação” e “hegemonia cultural” e entenda o que o Pablo Capilé quer dizer com DUTOS dentro do Fora do Eixo.

Fora do Fora do Eixo (por Beatriz Seigner)

Conheci um representante da rede Fora do Eixo durante um trajeto de ônibus do Festival de Cinema de Gramado de 2011, onde eu havia sido convidada para exibir meu filme “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano” e ele havia sido convidado a participar de um debate sobre formas alternativas de distribuição de filmes no Brasil.

Meu filme havia sido lançado naquele mesmo ano no circuito comercial de cinemas, em mais de 19 cidades brasileiras, distribuído pela Espaço Filmes, e o rapaz me contava de como o Fora do Eixo estava articulando pela internet os cerca de 1000 cineclubes do programa do governo Cine Mais Cultura, assim como outros cineclubes de pontos de cultura, escolas, universidades, coletivos e pontos de exibição alternativos, que estavam conectados à internet nas cidades mais longínquas do Brasil, para fazerem exibição simultânea de filmes com debate tanto presencialmente, quanto ao vivo, por skype. Eu achei a idéia o máximo. Me disponibilizei, a mim e ao meu filme para participar destas exibições, pois realmente acredito na necessidade de democratizar o acesso aos bens culturais no país, e sei como é angustiante, nestas cidades distantes, viver sem acesso à cultura alternativa e mais diversas artes.

Foi então organizado o lançamento do meu filme nos cineclubes associados à rede Fora do Eixo durante o Grito Rock 2012, no qual eu também me disponibilizei a participar de uma tournée de debates no interior de São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro, e por skype com outros cineclubes que aderissem à “campanha de exibição”, como eles chamam.

Com relação à remuneração eles me explicaram que aquele ainda era um projeto embrionário, sem recursos próprios, mas que podiam pagá-lo com “Cubo Card”, a moeda solidária deles, que poderia ser trocada por serviços de design, de construção de sites, entre outras coisas. Já adianto aqui que nunca vi nem sequer nenhum centavo deste cubo card, ou a plataforma com ‘menu de serviços’ onde esta moeda é trocada.

E fiquei sabendo que algumas destas exibições com debate presencial no interior de SP seriam patrocinadas pelo SESC – pois o SESC pede a assinatura do artista que vai fazer a performance ou exibir seu filme nos seus contratos, independente do intermediário. E só por eles pedirem isso é que fiquei sabendo que algumas destas exibições tinham sim, patrocinador. Fui descobrir outros patrocinadores nos posters e banners do Grito Rock de cada cidade. Destes eu não recebi um centavo.

No entanto, foi realmente muito animador ver a quantidade de pessoas sedentas por cultura alternativa em todas as cidades de pequeno e médio porte pelas quais passei. Foi também incrível conversar com cinéfilos por skype de cidadezinhas do Acre, Manaus, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Paraíba, Mato Grosso, Goiania, Santa Catarina, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outras cidades. Pelo que eu via, tinha entre 50 a 150 pessoas em cada sessão. Eu perdi a conta de quantos debates e exibições foram feitas, mas o Fora do Eixo havia me prometido como contra-partida uma foto de cada exibição onde fosse visível o número de público destas, e uma tabela com as cidades e quantidades de exibições que foram feitas. Coisa que também nunca recebi.

De qualquer maneira, empolgada com esta quantidade de pessoas que não querem consumir cultura de massa, em todas estas cidades, entrei em contato com colegas cineastas e distribuidores para que também disponibilizassem seus filmes, pois via o potencial de fortalecimento destes pontos de exibição em todos estes lugares, de crescimento do número de cinéfilos, e de pessoas que têm o desejo de desfrutar coletivamente de um filme, ou de outra obra de arte, de discuti-la, pesquisá-la, e se possível debatê-la com seus realizadores. Estava realmente impressionada com a quantidade de pessoas em todas estas cidades sedentas por arte. Se eu tivesse nascido em uma delas, via que seguramente seria uma delas, e mal conseguia imaginar como deve ser insuportável viver em uma cidade onde não há teatro, cinema alternativo, e muitas vezes nem sequer bibliotecas.

A idéia seria então de fazer um projeto para captar recursos para viabilizar estas exibições. Pensamos em algo como cada cineclube ou ponto de exibição que exibisse um filme receberia 100 reais para organizar e divulgar a sessão, e cada cineasta receberia o mesmo valor pelos diretos de exibição de seu filme naquele lugar. E caso houvesse debate presencial receberia mais cerca de mil reais de cachê pelo debate, e por skype ao vivo cerca de 500 reais pelo debate de até 3 horas.

Pensando em rede, se mil cineclubes exibissem um filme, o cineasta poderia receber, no mínimo, 100 mil reais por estas exibições. Eu ainda acho que é um projeto que deve ser realizado. E que esta ligação entre os cineclubes deveria ser feita por uma plataforma pública online do governo, onde ficaria o armazenamento destes filmes para download com senha e crédito paypal para estes pontos de exibição (sejam eles cineclubes, escolas, universidades, pontos de cultura etc).

Assim como também acho que os “Céus das Artes” que estão sendo construídos no país todo deveriam ter salas de cinema separadas dos teatros, com programação diária, constante, aumentando em 15% o parque exibidor brasileiro, e capacitando o governo de fazer políticas de exibição de filmes gratuitas ou com preços populares, em lugares onde simplesmente não há cinemas, muito menos, de arte.

Mas isso já é outra história. Voltemos ao Fora do Eixo.

E quando foi que o projeto degringolou? ou quando foi que me assustei com o Fora do Eixo?

Meu primeiro susto foi quando perguntaram se podiam colocar a logomarca deles no meu filme – para ser uma ‘realização Fora do Eixo’, em seu catálogo. Eu disse que o filme havia sido feito sem nenhum recurso público e que a cota mínima para um patrocinador ter sua logomarca nele era de 50 mil reais. Eles desistiram.

O segundo susto veio justamente na exibição com debate em um SESC do interior de SP, quando recebi o contrato do SESC, e vi que o Fora do Eixo estava recebendo por aquela sessão, em meu nome, e não haviam me consultado sobre aquilo. Assinei o contrato minutos antes da exibição e cobrei do Fora do Eixo aquele valor descrito ali como sendo de meu cachê, coisa que eles me repassaram mais de 9 meses depois, porque os cobrei, publicamente.

O terceiro susto veio quando me levaram para jantar na casa da diretora de marketing da Vale do Rio Doce, no Rio de Janeiro, onde falavam dos números fabulosos (e sempre superfaturados) da quantidade de pessoas que estavam comparecendo às sessões dos filmes, aos festivais de música, e do poder do Fora do Eixo em articular todas aquelas pessoas em todas estas cidades. Falavam do público que compareciam a estas exibições e espetáculos como sendo filiados à eles. Ou como se eles tivessem qualquer poder sobre este público.

Foi aí que conheci pela primeira vez o Pablo Capilé, fundador da marca/rede Fora do Eixo, um pouco antes deste jantar. Até então haviam me dito que a rede era descentralizada, e eu havia acreditado, mas imediatamente quando vi a reverência com que todos o escutam, o obedecem, não o contradizem ou criticam, percebi que ele é o líder daqueles jovens, e que ao redor dele orbitavam aqueles que eles chamam de “cúpula” ou “primeiro escalão” do FdE.

O susto veio, não apenas por conta de perceber esta centralidade de liderança, mas porque o Pablo Capilé dizia que não deveria haver curadoria dos filmes a serem exibidos neste circuito de cineclubes, que se a Xuxa liberasse os filmes dela, eles seguramente fariam campanha para estes filmes serem consumidos pois dariam mais visibilidade ao Fora do Eixo, e trariam mais pessoas para ‘curtir’ as fotos e a rede deles – pessoas estas que ele contabilizaria, para seus patrocinadores tanto no âmbito público, quanto privado. “Olha só quantas pessoas fizemos sair de suas casas”. E que ele era contra pagar cachês aos artistas, pois se pagasse valorizaria a atividade dos mesmos e incentivaria a pessoa ‘lá na ponta’ da rede, como eles dizem, a serem artistas e não ‘DUTO’ como ele precisava. Eu perguntei o que ele queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia: “duto, os canos por onde passam o esgoto”.

Eu fiquei chocada. Não apenas pela total falta de respeito por aqueles que dedicam a maior quantidades de horas de sua vida para o desenvolvimento da produção artística (e quando eu argumentava isso ele tirava sarro dizendo ‘todo mundo é artista’ ao que eu respondia ‘todo mundo é esportista também – mas quantos têm a vocação e prazer de ficar mais de 8 horas diárias treinando e se aprofundando em determinada forma de expressão? quantas pessoas que jogam uma pelada no fim de semana querem e têm o talento para serem jogadores profissionais?” “mas se pudesse escolher todo mundo seria artista” “não necessariamente, leia as biografias de todos os grandes compositores, escritores, cineastas, coreógrafos, músicos, dançarinos – quero ver quem gostaria de ter aquelas infâncias violentadas, viver na miséria econômicas, passar horas de dedicando-se a coisas consideradas inúteis por outros – vai ver se quem é artista, se pudesse escolher outra forma de vocação se não escolheria ter vontade de ser feliz sendo médico, advogado, empresário, cientista social.”).

Enfim, o fato é que eu acreditava e continuo acreditando que se a pessoa na ponta da rede, seja no Acre ou onde quer que seja, se esta pessoa tiver vontade de passar a maior quantidade de tempo possível praticando qualquer forma de expressão artística, seja encarando páginas em branco, lapidando textos, lapidando filmes, treinando danças, coreografias, teatro, seja praticando um instrumento musical (e quem toca instrumentos musicais sabe a quantidade de horas de prática para se chegar à liberdade de domínio do instrumento e de seu próprio corpo, os tais 99% de suor para 1% de inspiração), quem quer que seja que encontre felicidade nestas horas e horas de prática cotidiana artística deve produzir tais obras e não ser DUTO de coisa alguma.

Pois existem pessoas no mundo que não têm este prazer de produção artística, mas têm prazer em exibir, promover, e compartilhar estas obras. E tá tudo certo. Temos diversos exemplos de pessoas assim: vejam a paixão com que o Leon Cakof e a Renata de Almeida produziam e produzem a Mostra de São Paulo. O pessoal da Mostra de Tiradentes. E de tantas outras. Existe paixão pra tudo. E não, exibidores, programadores, curadores, professores, críticos de cinema ou de arte não são artistas frustrados – mas pessoas cuja a paixão deles é esta: analisar, comentar, debater, ensinar, deflagrar e ampliar o pensamento e a reflexão sobre as diversos âmbitos de atuação humanos. Que bom que tem gente com estas paixões tão complementares!

E o meu choque ao discutir com o Pablo Capilé foi ver que ele não tem paixão alguma pela produção cultural ou artística, que ele diz que ver filmes é “perda de tempo”, que livros, mesmo os clássicos, (que continuam sendo lidos e necessários há séculos), são “tecnologias ultrapassadas”, e que ele simplesmente não cultiva nada daquilo que ele quer representar. Nem ele nem os outros moradores das casas Fora do Eixo (já explico melhor sobre isso).

Ou seja, ele quer fazer shows, exibir filmes, peças de teatro, dança, simplesmente porque estas ações culturais/artísticas juntam muita gente em qualquer lugar, que vão sair nas fotos que eles tiram e mostram aos seus patrocinadores dizendo que mobilizam “tantas mil pessoas” junto ao poder público e privado, e que por tanto, querem mais dinheiro, ou privilégios políticos.

Vejam que esperto: se Pablo Capilé dizer que vai falar num palanque, não iria aparecer nem meia dúzia de pessoas para ouvi-lo, mas se disserem que o Criolo vai dar um show, aparecem milhares. Ou seja, quem mobiliza é o Criolo, e não ele. Mas depois ele tira as fotos do show do Criolo, e vai na Secretaria da Cultura dizendo que foi ele e sua rede que mobilizou aquelas pessoas. E assim, consequentemente, com todos os artistas que fazem participação em qualquer evento ligado à rede FdE. Acredito que, como eu, a maioria destes artistas não saibam o quanto Pablo Capilé capitaliza em cima deles, e de seus públicos.

Mesmo porque ele diz que as planilhas do orçamento do Fora do Eixo são transparentes e abertas na internet, sendo isso outra grande mentira lavada – tais planilhas não encontram-se na internet, nem sequer os próprios moradores das casas Fora do Eixo as viram, ou sabem onde estão. Em recente entrevista no Roda Viva, Capilé disse que arrecadam entre 3 e 5 milhões de reais por ano. Quanto disso é redistribuído para os artistas que se apresentam na rede?

O último dado que tive é que o Criolo recebia cerca de 20 mil reais para um show com eles, enquanto outra banda desconhecida não recebe nem 250 reais, na casa FdE São Paulo.

Mas seria extremamente importante que os patrocinadores destes milhões exigissem o contrato assinado com cada um destes artistas, baseado pelo menos no mínimo sindical de cada uma das áreas, para ter certeza que tais recursos estão sendo repassados, como faz o SESC.

Depois deste choque com o discurso do Pablo Capilé, ainda acompanhei a dinâmica da rede por mais alguns meses (foi cerca de 1 ano que tive contato constante com eles), pois queria ver se este ódio que ele carrega contra as artes e os artistas era algo particular dele, ou se estendia à toda a rede. Para a minha surpresa, me deparei com algo ainda mais assustador: as pessoas que moram e trabalham nas casas do Fora do Eixo simplesmente não têm tempo para desfrutar os filmes, peças de teatro, dança, livros, shows, pois estão 24 horas por dia, 7 dias por semana, trabalhando na campanha de marketing das ações do FdE no facebook, twitter e demais redes sociais.

E como elas vivem e trabalham coletivamente no mesmo espaço, gera-se um frenesi coletivo por produtividade, que, aliado ao fato de todos ali não terem horário de trabalho definido, acreditarem no mantra ‘trabalho é vida’, e não receberem salário, e portanto se sentirem constantemente devedores ao caixa coletivo, da verba que vem da produção de ações que acontecem “na ponta”, em outros coletivos aliados à rede, faz com que simplesmente, na casa Fora do Eixo em São Paulo, não se encontre nenhum indivíduo lendo um livro, vendo uma peça, assistindo a um filme, fazendo qualquer curso, fora da rede. Quem já cruzou com eles em festivais nos quais eles entraram como parceiros sabem do que estou falando: eles não entram para assistir a nenhum filme, nem assistem/participam de nenhum debate que não seja o deles. O que faz com que, depois de um tempo, eles não consigam falar de outra coisa que não sejam eles mesmos.

Sim, soa como seita religiosa.

Eu comecei a questionar esta prática: como vocês querem promover a cultura, se não a cultivam? Ao que me responderam “enquanto o povo brasileiro todo não puder assistir a um filme no cinema, nós também não vamos”. Eu perguntei se eles sabiam que havia mostras gratuitas de filmes, peças de teatro, dança, bibliotecas públicas, universidades públicas onde pode-se assistir a qualquer aula/curso – ao que me responderam que eles não têm tempo para perder com estas coisas.

Pode parecer algo muito minimalista, mas eu acho chocante eles se denominarem o “movimento social da cultura”, e não cultivar nem a produção nem o desfrute das atividades artísticas da cidade onde estão, considerando-se mártires por isso, orgulhando-se de serem chamados de “precariado cognitivo” (sem perceber o tamanho desta ofensa – podemos nos conformar em viver no precariado material, mas cultivar e querer espalhar o precariado de pensamentos, de massa crítica, de sensibilidade cognitiva, é algo muito grave para o desenvolvimento de seres humanos, e consequentemente da humanidade).

Concomitantemente a isso, reparei que aquela massa de pessoas que trabalham 24 horas por dia naquelas campanhas de publicidade das ações da rede FdE, não assinam nenhuma de suas criações: sejam textos, fotos, vídeos, pôsters, sites, ações, produções. Pois assinar aquilo que se diz, aquilo que se mostra, que se faz, ou que se cria, é considerado “egóico” para eles. Toda a produção que fazem é assinada simplesmente com a logomarca do Fora do Eixo, o que faz com que não saibamos quem são aquele exercito de criadores, mas sabemos que estão sob o teto e comando de Pablo Capilé, o fundador da marca.

E que não, a marca do fora do Eixo não está ligada a um CNPJ, nem de ONG, nem de Associação, nem de Cooperativa, nem de nada – pois se estivesse, ele seguramente já estaria sendo processado por trabalho escravo e estelionato de suas criações, por dezenas de pessoas que passaram um período de suas vidas nas casas Fora do Eixo, e saem das mesmas, ao se deparar com estas mesmas questões que exponho aqui, e outras ainda mais obscuras e complexas.

Me explico melhor: existem muitos dissidentes que se aproximam da rede pois vêem nela a possibilidade de viver da criação e circulação artística, de modificar suas cidades e fortalecer o impacto social da arte na população das mesmas, que depois de um tempo trabalhando para eles percebem, tal qual eu percebi, as incongruências do movimento Fora do Eixo. Que aquilo que falam, ou divulgam, não é aquilo que praticam. É a pura cultura da publicidade vazia enraizada nos hábitos diários daquelas pessoas.

E além disso, o que talvez seja mais grave: quem mora nas casas Fora do Eixo, abdicam de salários por meses e anos, e portanto não têm um centavo ou fundo de garantia para sair da rede. Também não adquirem portfólio de produção, uma vez que não assinaram nada do que fizeram lá dentro – nem fotos, nem cartazes, nem sites, nem textos, nem vídeos. E, portanto, acabam se submetendo àquela situação de escravidão (pós)moderna, simplesmente pois não vêem como sobreviver da produção e circulação artística, fora da rede. Muitas destas pessoas são incentivadas pelo próprio Pablo Capilé a abandonar suas faculdades para se dedicarem integralmente ao Fora do Eixo. Quanto menos autonomia intelectual e financeira estas pessoas tiverem, melhor para ele.

E quando algumas destas pessoas conseguem sair, pois têm meios financeiros independentes da rede FdE para isso, ficam com medo de retaliação, pois vêem o poder de intermediação que o Capilé conseguiu junto ao Estado e aos patrocinadores de cultura no país, e temem serem “queimados” com estes. Ou mesmo sofrer agressões físicas. Já três pessoas me contaram ouvir de um dos membros do FdE, ao se desligarem da rede, ameaças tais quais “você está falando de mais, se estivéssemos na década de 70 ou na faixa de gaza você já estaria morto/a.” Como alguns me contaram, “eles funcionam como uma seita religiosa-política, tem gente ali capaz de tudo” na tal ânsia de disputa por cada vez mais hegemonia de pensamento, por popularidade e poder político, capital simbólico e material, de adeptos. Por isso se calam.

Fiquei sabendo de uma menina que produziu o Grito Rock 2012 em Braga, em Portugal, no qual exibiram meu filme. Ela me contou que estava de intercâmbio da universidade lá, e uma amiga dela que havia sido “abduzida pelo Fora do Eixo” entrou em contato perguntando se ela e um amigo não queriam exibir o filme em Braga, produzir o show de uma banda na universidade, fazer a divulgação destas ações nas redes sociais. Ela achou boa a idéia e qual não foi sua surpresa quando viu que em todos os materiais de divulgação do evento que lhe enviaram estava escrito “realização Fora do Eixo”. “Eu nunca fui do Fora do Eixo, não tenho nada a ver com eles, como assim meu nome não saiu em nada? Não vou poder usar estas produções no meu currículo? E pior, eles agora falam que o Fora do Eixo está até em Portugal, e em sei lá quantos países. Isso é simplesmente mentira. Eu não sou, nem nunca fui do Fora do Eixo.”

O que leva a outro ponto grave das falácias do Fora do Eixo: sua falta de precisão numérica. Pablo Capilé, quando vai intermediar recursos junto ao poder público ou privado, para capitalizar a rede FdE, fala números completamente aleatórios “somos mais de 2 mil pessoas em mais de 200 cidades na America Latina”. Cadê a assinatura destas pessoas dizendo que são realmente filiadas à rede? Qualquer associação, cooperativa, partido político, fundação, ONG, ou movimento social tem estes dados. Reais, e não imaginários.

Quando visitei algumas das casas Fora do Eixo, estas pessoas morando e trabalhando lá não chegavam a 10% daquilo que ele diz a rede conter. E estas pessoas são treinadas com a estratégia de marketing da rede, de “englobar” no facebook e twitter alguém que eles consideram estrategicamente importante para o Fora do Eixo, seja um vereador, um intelectual, um artista, um secretário da cultura, e replicam simultaneamente as fotos e textos dos eventos do qual produzem, divulgam, ou simplesmente se aproximam (já vou falar dos outros movimentos sociais que expulsam o Fora do Eixo de suas manifestações – pois eles tiram fotos de si no meio destas ações dos outros e depois vão ao poder público dizer que as representam), ao redor daquelas pessoas estratégicas, política e economicamente para eles, que as adicionaram ao mesmo tempo, criando uma realidade virtual paralela que eles manipulam ao redor desta pessoa. Pois, se esta pessoa ‘englobada’ apertar ‘ocultar’ nas cerca de150 pessoas que trabalham nas casas Fora do Eixo, verá que muito raramente estas informações chegam por outras vias. Ou seja, eles simulam um impacto midiático muito maior de suas ações, apara aqueles que lhes interessam, do que o impacto real das mesmas nas populações e localizações onde aconteceram.

E com isso vão construindo esta realidade falsa, paralela. Controlada por eles, sob liderança do Pablo Capilé.

Dos movimentos sociais que começaram a expulsar os Fora do Eixo de suas manifestações e ações, pois estes, como os melhores mandrakes, ao tentar dominar a comunicação destas, iam depois ao poder público dizer representá-las, estão o movimento do Hip Hop em São Paulo, as Mãe de Maio (que encabeçam o movimento pela desmilitarização da PM aqui), o Cordão da Mentira (que une diversos coletivos e movimentos sociais para a passeata de 1º de Abril, dia do golpe Militar no Brasil, escrachando os lugares e instituições que contribuíram para o mesmo), a Associação de Moradores da Favela do Moinho, o coletivo Zagaia, o Passa-Palavra, o Ocupa Mídia, O Ocupa Sampa, o Ocupa Rio, Ocupa Funarte, entre outros. Até membros do Movimento Passe Livre tem discutido publicamente o assunto dizendo que o Fora do Eixo não os representam, e não podem falar em seu nome.

Sobre a transmissão de protestos e ocupações, são milhares de pessoas em diversos países que transmitem as manifestações no mundo todo, em tempo real, e acredito que os inventores que fizeram os primeiros smartphones conectando vídeo com internet, são realmente tão importantes para a comunicação na atualidade quanto os inventores do telégrafo foram em outra época.

Já o Fora do Eixo, agora denominados de Mídia Ninja, (antes era Mídia Fora do Eixo, mas como são muito expulsos de manifestações resolveram mudar de nome) utilizar os vídeos feitos por centenas de pessoas não ligadas ao Fora do Eixo, editá-los, subí-los no canal sob seu selo, e querer capitalizar em cima disso – sem repassar os recursos para as pessoas que realmente filmaram estes vídeos/fizeram estas fotos e textos – inclusive do PM infiltrado mudando de roupa e atirando o molotov – eu já acho bastante discutível eticamente.

Sobre a questão do anonimato nos textos e fotos, acredito que esta prática acaba fazendo com que eles façam exatamente aquilo que criticam na grande mídia: espalham boatos anônimos, sem o menor comprometimento com a verdade, com a pesquisa, com a acuidade dos dados e fatos.

Mas enfim, acho que a discussão é muito mais profunda do que a Midía Ninja em si, apesar deles também se beneficiarem do trabalho escravo daqueles que vivem nas casas Fora do Eixo.

Acredito com este relato estar dando minha contribuição pública à discussão de o que é o Fora do Eixo, como se financiam e sustentam a rede, quais seus lados bons e seus lados perversos, onde é que enganam as pessoas, dizendo-se transparentes, impunemente.

Contribuição esta que acredito ser meu dever público, uma vez que, ao me encantar com a rede, e haver vislumbrado a possibilidade de interagir com cinéfilos do rincões mais distantes do país, que não têm acesso aos bens culturais produzidos ou circulados por aqui, incentivei outros colegas cineastas a fazerem o mesmo. Já conversei pessoalmente com todos aqueles que pude, explicando tudo aquilo que exponho aqui também. Dos cineastas que soube que também liberaram seus filmes para serem exibidos pela rede, nenhum recebeu qualquer feedback destas exibições, sejam em fotos com o número de pessoas no públicos, seja com a tabela de cidades em que passaram, seja de eventuais patrocínio que os exibidores receberam. E como talvez tenha alguém mais com quem eu não tenha conseguido falar pessoalmente, fica aqui registrado o testemunho público sobre minha experiência com a rede Fora do Eixo, para que outras pessoas possam tomar a decisão de forma mais consciente caso queiram ou não colaborar com ela.

Espero que os patrocinadores da rede tomem também conhecimento de todas estas falácias, e cobrem do Fora do Eixo o número exato de participantes, com assinatura dos mesmos, os contratos e recibo de repasse das verbas que recebem aos autores das obras e espetáculos que eles dizem promover. E que jornalistas que investigam o trabalho escravo moderno se debrucem também sobre estas casas: pois acredito que as pessoas que estão lá e querem sair precisam de condições financeiras e psicológicas para isso.

Espero também que mais pessoas tomem coragem para publicar seus relatos (e sei que tem muita gente que poderia fazer o mesmo, mas que tem medo pelos motivos que expliquei a cima), e assim teremos uma polifonia importante para quebrar a máscara de consenso ao redor do Fora do Eixo.

E que, mesmo vivendo em plena era da cultura da publicidade, exijamos “mais integridade, por favor”, entre aquilo que dizem e aquilo que fazem aqueles que querem trabalhar, circular, exibir, criar, representar, pensar ou lutar pelo direito fundamental do Homem de produção e desfrute da diversidade artística e cultural de todas as épocas, em nosso tempo.

Os Três Reis

– quanto vale 5 minutos na vida?          

Estava com meu gênio mau e minha mãe na câmara dele, do gênio. Parecia noite, mas uma noite prateada, iluminada por três luas: não era preciso ligar a luz.

Então eles deixaram a sala e pediram para que eu continuasse ali, só. Os dois tinham a mesma expressão sacana no rosto ao sair.

Antes que eu me insurgisse, ainda em pensamento, o gênio mau rispidamente disse que ali, sozinho, eu aprenderia uma grande lição, talvez a grande lição da minha vida – valia a pena ficar calado e manter o foco, eles não tardariam.

Deixaram-me. Fui vasculhar o computador dele, sem maiores intenções, só pra ter o que fazer. O sinal do modem parecia nulo. Então, naturalmente, fui até a janela olhar o que se passava lá fora. Fazia uma grande noite, com várias esferas no céu, que eu pensei serem luas.

Respondi ao céu com um sorriso que era o reflexo de quem vislumbra uma estrela no futuro, olhando à direita das coisas, como se a minha visão fosse enquadrar minha própria imagem. Então percebi que aquilo tudo era estranho, que eu não poderia ver meu próprio rosto sem um espelho, e que um céu não poderia ter tantas luas como aquele.

Notando que ninguém nas ruas manifestava estranheza e tudo permanecia naquele tédio ruidoso de cosmopolita, recordei, em primeiro lugar, que eu não estava em casa: estava no aposento de um gênio. Por supuesto, eu estava em outra cidade, quiçá, em outro país.

Revolvi os olhos dentro das pálpebras e as esfreguei. Então as luas não me pareciam mais luas, mas pedras lisas em suas cores próprias, exibidas, como se cada uma quisesse produzir seu próprio luar em matizes únicos. Então três outras esferas orbitais se aproximaram violentamente da atmosfera, à minha esquerda. As luas se aproximaram, pareciam também querer observar o espetáculo, ou apenas tirar um sarro da minha patética admiração.

Desejei sair pela janela para ganhar aquele céu que parecia vivo, terrivelmente belo. Quis tê-lo em sua completude. Então as paredes do escritório se desataram do solo e foram tragadas pelo universo, que me poupou de sua sucção sabe-se lá por que. Eu tinha os pés cravados de horror sobre um chão que se elevou subitamente pelo vazio do espaço. O aposento inteiro parecia destacado da Terra, como se um observador curioso tivesse no comando de uma brincadeira onde eu era uma espécie de bibelô de casa de bonecas.

Eu me espremi pelo canto do aposento como um animal sem forças para encarar os meus desejos. Eram “meus desejos” que se materializavam? Senti que eram. Na dúvida, tive medo de continuar desejando. Vai que realiza, pensei – os meus desconhecidos recônditos alcançariam sua curiosidade com as próprias mãos. Eu não era eu, ou, eu sou mais forte que eu. E isso parecia cada vez mais uma certeza insuportável, desmedida. Eu fechava os olhos, mas sentia a câmara avançar pelo espaço, e essa loucura era a exata medida da minha vontade.

A garganta gelava, meus órgãos internos flutuavam, meus pés se tornaram dois garranchos inúteis. O que eu imaginasse, até no mais adormecido instinto, poderia se tornar realidade no próximo segundo. Meu corpo não sobreviveria aos meus desejos, então eu mesmo me engoliria ou me explodiria na atmosfera de um lugar hostil. Timidamente, entreabri as pálpebras e olhei de volta para o céu. Vivo. Eu e o céu. As três esferas inquisitivas continuavam por perto, registrando minhas ações ante os mistérios celestes. E as luas, ou planetas, ou qualquer coisa que fosse, perfilavam-se diante de mim, em escalada.

Como que familiar a elas, reconheci aquelas luas. Elas pareciam o sistema de planetas em que habito. Inusitadamente perfilados. Como dizem os esotéricos: “alinhados”. Eram os planetas que me cercavam, com suas exuberâncias coloridas. E onde estava o Sol? Eu não via o Sol, que seria o pai das cores que os planetas exibiam – com força cada vez mais intensa.

Antes que eu me voltasse para o Sol, então, Marte se elevou diante de mim, e por trás de Marte a Terra também se elevou e, por trás da Terra, Vênus, e, como era de se esperar, Saturno e seus anéis loucos se elevaram.

Mercúrio se aproximou da câmara como se encarasse com desdém a minha covardia. Seu gesto dizia que eu sou um animalzinho sem força pra exercer minha própria liberdade. As apostas subiram dizendo que eu não daria conta do recado. Súbito, um dos anéis de Saturno enviou uma pequena esfera brilhante que passou zunindo pela câmara em direção às três luas, que continuavam a julgar.

– Seriam os três reis magos?, perguntei a mim mesmo, em franco desespero. A quem mais eu perguntaria?

Então a pequena esfera passou por mim outra vez, zunindo. Fui em direção ao banheiro da câmara para tentar me esconder de seus ataques, ou apenas tentar me espremer num outro canto, como um menino acossado, rastejante, mas a fechadura estava trancada. Quando a minha mão trêmula desistiu da maçaneta, a pequena esfera se alojou na palma da minha mão e ali permaneceu por uma fração de segundo, para depois atravessar minha carne (como se eu ou aquela coisa fôssemos imateriais) e sumir dali em seu voo hábil.

Estranhamente senti, num hausto de vida, um gosto de habitualidade com as coisas do céu. Concluí que a plataforma suspensa na qual eu me encontrava é que era ilusória. Uma ilusão familiar. E que o resto, o que para mim era ilusão e mistério, isso é que era o verdadeiramente real. Assim, todas as coisas que fiz na Terra pareceram projeções pobres e doentes dos meus desejos no céu.

Os meus sentidos se aguçaram em êxtase e eu tinha certeza de que em pouco tempo eu estaria em compasso com aquela hiper-realidade, a ponto de controlar minha cosmogonia interior.

Antes que eu tivesse tempo de desejar o brilho de volta em minhas mãos, e me regozijasse com a certeza de que aquela pequena coisa era a verdadeira iluminação, minha mãe e o gênio mau abriram a porta e tudo voltou ao que era antes. As paredes estavam de volta aos seus lugares. A Terra parecia até mais verdadeira e aconchegante que de costume. As luzes emitidas pelas três luas transformaram-se em rígidos postes de concreto perfilados nas frisas de um estacionamento. Era uma casa ordinária, num quinhão de mercado, ou coisa assim. O mestre sentou-se e pediu que eu achasse assento também.

– E aí, deu pra aprender alguma coisa? – perguntou ele, acendendo um cigarro, com uma inflexão fria e indiferente ao meu estado de torpor.

UM BICO NO TRASEIRO REVOLUCIONÁRIO

clique pra ver o momento da bicuda:
http://globotv.globo.com/globo-news/jornal-das-dez/v/policia-identifica-suspeitos-de-liderar-manifestacao-de-sexta-feira-14-em-brasilia/2640187/

Finalmente posso dizer que uma das missões desse espaço se deu por cumprida: mandar um chute no cu do movimento revolucionário. A filosofia mais abominável, sedutora e contraditória que já pairou sobre a Terra, condenando à morte mais de 100 milhões de homens em menos de um século de existência (segundo O Livro Negro do Comunismo, publicado pelos próprios). Isso pra não contar o período do Terror, na Revolução Francesa, que para os socialistas foi um ato de amor tão sublime quanto a Paixão.
Embora mitigadas e sem formalismo nenhum, reuni aqui várias razões para o meu objetivo, e elas foram desde o campo metafísico ao desenrolo de lorotas. No último post, por exemplo, en passant falei das homenagens ocultistas do cinema hollywoodiano em Gatsby, o que indica íntima relação com os preceitos da Nova Ordem – o esquema global de dominação em curso, premeditado desde o socialismo fabiano de H. G. Wells.
Noutra oportunidade citei a agente soviética Bella Dodd, cujo livro narra esquemas da KGB dentro do Vaticano para desmoralizar o cristianismo. Dodd, sozinha, introduziu mais de 1.000 comunistas e militantes gays em cargos eclesiásticos dentro dos Estados Unidos.
Aqui também deduzi que certas propagandas divulgadas por militantes não passavam de embustes retóricos para encalacrar o interlocutor. Fiz isso a primeira vez quando flagrei um professor de comunicação, Fábio Castro (assessor do PT), divulgando uma potoca em forma de panfleto, via facebook.
A segunda vez, assim direta, foi no último texto, quando alertei que a chifruda do Troca de Casais (Clara Averbuck) e a Lola Aronovitch (do Escreva Lola Escreva) andam propagandeando o aborto usando uma estratégia, no mínimo, suspeita: elas ocultam que o art. 128 do Código Penal é mantido pelo Estatuto do Nascituro (leia o inciso II). Omissão feita, elas saem divulgando em seus blogs que o estatuto, anti-abortista, vai obrigar toda mulher estuprada a parir o fruto do estupro. Chamam o Estatuto do Nascituro de “bolsa-estupro”. Como vimos, tudo mentira. Tudo desmascarado. É gente mal intencionada querendo foder a vida dos outros. Quem quer que continue creditando esses filhos da puta só pode ter duas coisas em mente: servilismo ou doença.
Trabalhei isso aqui, comprovei, e ninguém deu um pio. E já se vão mais de 1.200 visitas. Conheço muita gente de esquerda, mas até agora ninguém mexeu uma palha pra contradizer. Só uma vez tentaram destacar uma frase solta de minha autoria, usando-a fora do contexto, pra tentar dizer que eu sou pró-militar. Usaram da velha língua dúplice, própria de cobras, comunistas e letristas de forró. Não precisei nem discutir o mérito do engodo pra botar essa gente pra correr. É como se diz: contra fatos não há argumento. Não adianta tripudiar, de nada vale a burla da edição parcial. Cedo ou tarde a sacanagem se volta contra o sacana.
Mas a verdade é que chutar o cu da revolução globalista é um objetivo enorme e impossível de cumprir solitariamente. Seria preciso uma bicuda de mais de duzentos anos de duração. No entanto, isso é só um blog e eu ando muito a fim de dar um tempo de internet. Acho que serei impelido a isso de qualquer maneira depois dessa – agora que é boato geral que mais de 9.000 perfis estão sendo monitorados pelo governo depois das manifestações. E certamente, como a notícia por si só demonstra, não são os baderneiros que preocupam de verdade os poderes da esquerda nacional.

Pois bem, se tiver algum agente do governo me monitorando, tenho o enorme prazer de mandá-lo pro inferno neste exato momento.
Vamos continuar no registro:

MAYRA COTTA CARDOZO DE SOUZA – assessora especial da Secretaria Executiva da Presidência da República
DANIEL GOBBI FRAGA DA SILVA – especialista na assessoria internacional do gabinete da Secretaria Geral da Presidência da República.
JOÃO VICTOR RODRIGUES LOUREIRO – assessor da subchefia para assuntos jurídicos da Presidência da República
GUSTAVO MOREIRA CAPELA – assessor de gabinete da Subprocuradoria Geral da República
GABRIEL SANTOS ELIAS – ex-assessor da subchefia de assuntos parlamentares da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República

Essa semana, como se vê no vídeo, essas pessoas organizaram uma manifestação violenta “contra o governo” em Brasília. Eles pagaram um caminhoneiro pra levar pneus e usaram uns idiotas pra incendiarem o material numa rodovia.
O nome dessas abominações pouco interessa no momento (talvez no futuro interesse mais), o que vale no momento é ressaltar o cargo desses filhos da puta. TODOS ocupam cargos na Presidência da República.
Mas que estranho, não? Um cara de dentro do governo fodendo o próprio governo… que porra é essa? Empregado público pagando gente pra incendiar rodovia? Com dinheiro de quem? Se eles todos são tão próximos do governo, o dinheiro é nosso, certamente. O que faz exata a conclusão de que o nosso dinheiro é usado pra financiar uma esquisita trama anarco-governamental – e, veja que admirável, travestida numa modinha global idealizada pelo Alan Moore.

Quais serão as consequências de uma porra-louquice como essa? Aposto que nem os caras que tão queimando pneu uma hora dessas sabe.
Seria precipitado tirar conclusões agora. Mas desde que uma pedra fez vento perto da minha orelha durante uma passeata, ouço dizer que tem gente de partido político pagando moleques pra servirem de vândalos. Reparem: a maioria dos caras presos até agora ou são servidores públicos muito subalternos, ou filhos de servidores, ou pé-rapados com passagens pela polícia. O mentor e provedor material deles deve estar muito confortável descansando em algum apartamento em Brasília.

Pra adiantar o meu lado e não ter que repetir ideias, vou colar um texto que eu ia divulgar antes desse. O que era só uma teoria provável, agora ganha ares de realidade. Era sobre o comportamento dos militantes depois de um alarmismo da socióloga Marília Moschkovitch.

Daí vem o comuna dizendo que o Brasil deve temer a “nova onda conservadora”. Os caras espalham um medo generalizado. “A onda conservadora”, “a direita cristã”, “o golpe, o golpe!”. Mas que direita, porra? O PMB da emo de Porto Alegre?
Eu queria entender qual é a graça de generalizar um medo desses. Esses caras nunca tem argumento sério, vão sempre apelando pro emocional. Divulgam um sentimento idiota sem quase qualquer fundamento. O que é um partido nanico, recém-criado, sem nenhum representante no poder, perto de um PT? – que tem em suas mãos sindicatos, partidos em ascensão,  as FARC e o PMDB. Quem não sabe que o movimento sindical é uma indústria judicial? Quem não desconfiou que esse pessoal do PSOL, do PSTU, do Passe Livre administram ongueiros financiados pelo PT? O que é, meu Deus, um Jair Bolsonaro perto de um Renan Calheiros vendido?

A democracia no Brasil virou o parque de diversões do socialismo e esse pessoal vem com medinho da direita. Porra! Fazer assessoria política desse jeito é escrever ficção. Mas os militantes  nem isso fazem direito. Deixam a coisa muito óbvia. É todo mundo topando nos mesmos falatórios. “A direita conservadora”, “os reaça”, “o sistema capitalista”. Coisas de um discursinho ranheta, pré-verbal. Às vezes parece que o Feliciano vai virar general e o Carlos Lacerda vai sair do túmulo.

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Imagens da “direita conservadora”.

O caso é sério, vi PROFESSORES-DOUTORES dizendo que esse tipo de manifestação é da “direita”. Bem, se você não tá concorrendo a uma vaga no Zorra Total, acho que você não deveria se preocupar com um adversário político como esse.

Meu velho, doutor, livre-docente, fã do Paulo Giraldelli, isso aqui é uma direita: http://www.midiasemmascara.org/artigos/internacional/europa/14175-como-se-constroi-uma-farsa.html

Mas eu já tô ficando com câimbra de tanto escrever que DIREITA NÃO EXISTE. No Brasil, não. É uma massa desorganizada, vaga. Uma gostosa protestando contra a inflação de anabolizantes. Isso: a direita no Brasil é uma piadinha sem vergonha, ela só existe como ameaça na mitologia comunista. Enquanto que a esquerda local, organizada desde fóruns internacionais, se alterna no poder há mais de 20 anos. Na cena cultural então, desde que foi deixada às moscas, ainda no regime militar. Você vê algum filme nacional que respeite valores tradicionais cristãos? Acho que nem minha vô lembra do último.

O que urge é que quem tá no poder precisa disso: mais poder. E ando falando disso: o estado vai nos cercar cada vez mais. O vandalismo é a causa do estado ganhar mais força sobre a nossa liberdade individual. Os socialistas que estão no poder estão sendo testados para um novo momento histórico, que eles chamam internamente de “ruptura”: essa é a realidade agora – e o que nós devemos nos preocupar no momento. Eles mesmos admitem isso. A ruptura é a passagem do socialismo de transição por socialismo de fato: sociedade civil e forças armadas nas mãos do partido. Vejamos: ser empresário no Brasil é um crime se não for puxando o saco do Governo. A Bovespa já tem mais de 40% de ações vinculadas ao Estado. Já tem bairro no Rio com variações do toque de recolher. Mas ainda falta uma peça importante pra terminar o quadro… armas. Por isso, veadão mascarado, não adianta você incentivar o desarmamento, incendiar uma guarita e achar que tá arrasando “contra o sistema”, isso é coisa que só um idiota  faria diante das circunstâncias.

Se esses caras tivessem mesmo preocupados com um “golpe militar”, essa onda de vandalismo já teria acabado. Isso vai dar motivo pra quem está no poder criar um estado policial. n tô falando de golpe militar. isso é conversa de comunista lacaio. Sabe como é: o picão manda a diretriz pelo partido, pela Caros Amigos, Pragmatismo Político, Ninja, Slavoj Zizek (ou qualquer merda que o valha), e os serviço-sujo se encarregam de espalhar a mensagem como se fosse o novo Pai-Nosso.

E é esse mesmo pessoal que acha que eu só “pró-milico”. Um aviso: tome no seu cu. Agora. Todo texto que eu publico sobre militar falo do fracasso cultural que eles representaram. O regime militar no Brasil foi um erro. Tratei desse assunto pentelhamente no meu próprio TCC. Eu me inteirei dessa porra. Eu sei que os militares foram traidores, deixaram o Lacerda na mão. Isso não desmente o fato de alguns militares serem boas pessoas, ora porra! Parece uma incongruência, mas incongruências existem. Existem tanto quanto comunistas filhos de militares. Isso é Brasil, meu filho. O país onde bunda, burrice e dubiedade são motivos de orgulho.

Obs 1: Quanto ao “pró-militar”, basta dizer que no mesmo texto em que tentaram me sacanear, impingi aos militares a honra de traírem o Brasil ao condenarem o Carlos Lacerda, político conservador mais talentoso que já pisou por aqui, ao ostracismo político. Milico é tecnocrata e burro, acha que comunicação social e antropologia são uns dados econômicos na planilha do Delfim Neto. O próprio Werneck Sodré (ex-milico) reconhece isso na biografia do Dias Gomes, o falecido comunista e autor de novelas da Globo. Assim, a esquerda ocupou o espaço cultural sem maiores óbices. No fim, até filme pornô com cachorro foi liberado pela tão temida censura.

Obs 2: Egito. Não conheço profundamente a questão, mas duvido muito que esse presidente deposto não tenha sido o sujeito da transição pro momento da ruptura. É punhetagem, mas o que me faz apostar ainda mais nisso é o apoio do rei saudita, um obamista de carteirinha.

Obs 3: Essa repressão imediata e peremptória aos manifestantes caminhoneiros. Quando é vagabundo incendiando rua, tá tudo certo; quando é caminhoneiro pai de família travando a estrada, o Dilmão vem falar em “ordem e progresso”.

OS DONOS DA REVOLUÇÃO

Aviso: esse artigo é longo, pesado, contém palavrões vergonhosos e spoilers sobre a sua vida.

Vamos começar com a identificação dos grupos que atuam profissionalmente com essa onda de manifestações que chegou como moda no Brasil.

1 – Petistas: é fácil encontrar pela internet empregados públicos e assessores do governo ridicularizando quem vaiou a Dilma no dia do jogo Brasil. O argumento é que esse pessoal “de elite” paga caro pra entrar no estádio e ainda quer protestar. Como se eles, numa tuitada, deixassem de fazer parte da elite que nos governa. E quanto a você, que tem dinheiro, deveria ter vergonha de ser rico, você deveria abdicar do direito de achar o socialismo do Dilmão a merda que ele efetivamente é. Muito apropriado, não? É tipo um ‘cala a boca e não enche o saco’ em retórica petista.

2 – PSTU e PSOL: também foi figurinha fácil, tanto nas passeatas como nas redes sociais, gente filiada a esses partidos aproveitando a agitação para atribuir para si a autoria de uma revolta que vem sendo experimentada por toda a sociedade civil.

 3 – Movimento Passe-Livre: enquanto os personagens acima cuidam do mainstream – a “elite” e o “governo” – esses daqui cuidam de questões de abrangência mais orgânicas partindo de uma reivindicação idiota: a gratuidade do transporte público. Certo, eles agora arrefeceram do zero absoluto pra R$3,00 pra atender a um imediatismo imperativo, mas vai vendo que depois tem mais.

4 – Movimentos estudantis: na minha opinião esses fazem o pior dos trabalhos sujos. Preme lembrar que os movimentistas universitários são todos filiados a alguma ideia gramsciana-marxista. O que se traduz, de fato, nessa tradição universitária dentro dos partidos da chamada “esquerda radical”. Esses personagens não-iniciados são responsáveis por doutrinar e conduzir passeatas ao mesmo nível deplorável de consciência que eles têm. Você pode achar isso de muita utilidade, até tem, eles cumprem uma agenda: mas saiba que você será imediatamente ridicularizado se for às ruas se apresentando com um comportamento à direita de um militante do PSOL. Quero dizer, se você for às ruas e aparentar ter muito dinheiro, não for pró-aborto, não for pró-maconha, não for pró-casamento gay, alguém vai lhe passar um pito e desautorizá-lo a reclamar do governo o qual você também é um governado. Você será chamado de “reaça” (“Ei reaça, vaza dessa marcha!”). Trocando em miúdos, só quem apoia a esquerda tem direito a reivindicações públicas. Essa é a democracia desses caras. Essa é a democracia do seu Slavoj Zizek, que bem admite que a oposição brasileira é algo tão inexistente quanto o neologismo que ele lança mão, o “emcimadomurismo”. Dentro de poucos dias vai ter incauto acreditando que Lula é um semideus autojustificável.

5 – O povo: o que resta dos meros mortais fora das esferas de poder não deveria ser incluído nessa lista enfadonha de embusteiros profissionais. Mas cumpre incluí-los, posto que eles recebem, nos círculos esquerdistas, o apelido carinhoso de “MASSA DE MANOBRA”. Esse é mais um termo gramsciano, pra variar. Bem, o povo tá dispersado nessa miríade de instituições falidas que atola o Brasil: saúde, educação, habitação, etc. A população aqui é de uma proporção continental e brasileiro adora opinar sobre tudo, não tem mais jeito de apontar um inimigo só. Isto é, o povo apresenta inimigos impessoais e vagos, cabendo aos heróis militantes a tarefa de manobrar o país sob o pretexto de alguma única reivindicação (que eles ainda parecem confundir), atendendo a uma premissa básica da disputa de poder: arranjar um inimigo urgente. O povo, limitado a disparar indefinidamente, só tem a serventia a qual lhe é de origem: massa de manobra.

                A partir disso tudo não cabe mais quantificar atores, a coisa começa a se misturar indistintamente… como numa passeata. No meio da confusão, enfraquecendo ainda mais a massa informe, um caboco surge do nada com um coquetel molotov e se une a uns tantos outros para depredar prédios públicos, estátuas, bancos – sobra até pra inocentes botecos de esquina. Reivindicando um suspeitíssimo apartidarismo, esses animais dão o golpe de mestre: jogar o povo contra si próprio. A coisa começa a parecer realmente perigosa e incendiada.

                A consequência das polaridades que se radicalizam é a morte ou o acordo. Mas o brasileiro não tem vocação pra suicida. E então lá vem ele, o indigitado, o rei do acordo, da tergiversação e dos discursos de paz, como um salvador super-organizado, dizer que tem uma solução. E então o impasse inextrincável parece magicamente resolvido: a passagem do bonde baixa vinte centavos.

                O resto desse filme a gente já viu. Aconteceu em 92, quando o pessoal da velha esquerda uspiana (PT e PSDB) adquiriu para si a autoria sobre as revoltas populares do Movimento Diretas Já. Mas tenho que dizer que esse arco dramático que refiz é um processo natural às insurreições. Pela lógica social, alguém vai sair beneficiado com o resultado, não tem como ser diferente. Do contrário, a revolta é falha, um movimento de ideias inconclusas, o esquecimento ou a tristeza geral.

                Veja você: pouco tempo atrás eu li um texto emocionado do Flávio Gomes, da ESPN, rememorando o espírito cívico daqueles dias de Diretas Já. Ele terminava o texto com sua extrema felicidade em encontrar o PT no poder. Quer dizer, o Flávio era só um universitário amestrado na época das Diretas que redundou, na prática, em mais um votante (e influenciador) nas urnas – quase trinta anos depois. Lendo aquilo, eu também fiquei emocionado. O Flávio tem o dom da escrita, e a esperança de pertencer a uma nação com espírito realmente cívico é uma das ideias mais fortes que alguém pode experimentar. Mas a realidade é que o PT foi quem obteve as benesses do movimento das diretas no fim das contas. Ficou claro como 2 e 2 que “diretas” era só um objetivo a priori. E que o povo foi mais uma vez a vítima de um silogismo que o enquadra como “massa de manobra”.

– Quem vai ser o beneficiário de todos esses movimentos de 2013?

Bom, isso não tem como saber. Mas temo que o principal beneficiado pelo fracasso dessa pífia administração socialista será… UM NOVO SOCIALISTA. Essa é a probabilidade mais segura, basta ver na inundação de discursos esquerdóides que pululam na sua timeline, no seu mural, no seu trampo, na boca dos porta-vozes do movimento, onde quer que seja, enfim. Eles mesmos já deixaram claro que vinte centavos é um motivo a priori (como chamávamos na escola ao estudar 1ª Guerra, o “estopim”). Vinte centavos é o desconto que vamos ganhar na passagem por ter que encarar mais um processo de renovação epitelial da mesma esquerda QUE JÁ ESTÁ SENTADA NO PODER desde 1992.

Faço questão de enfatizar que é a esquerda quem está no poder. Esse é um fato óbvio que, sei lá por que cargas d’água, ninguém mais parece lembrar. De fato, ninguém mais aguenta tanta roubalheira – roubalheira socialista – mas ninguém se toca que eles estão tirando proveito do próprio fracasso, avivando uma esquerdinha que cinco anos atrás era tida como inexperiente e desacreditada. Eles estão tirando proveito da nossa ingenuidade civil e falta evidente de democracia.

Alguns apareceram com a cara-de-pau de ressuscitar o heroísmo de dinossauros da velha esquerda, dos que “lutaram contra a ditadura”, como se esses caras não fossem os mesmos que nos roubam hoje, meu Deus do céu! O que me revolta é toda essa falta de escrúpulos na hora de mentir. O sujeito mente com uma indignação doentia, dramática, faz vista grossa para os próprios erros que cometeu. Porra, onde vocês aprenderam a se justificar assim? Até hoje eu morro de vergonha de admitir que votei no Lula. Não tenho o menor orgulho de lembrar que já fui partidário desse psicopata pretensioso. Não consigo nem me justificar dizendo que na época eu era menor. Prefiro uma dor verdadeira que o prazer idiota de me iludir: o fato é que eu fiz aquilo por vontade própria, compareci a um diretório do PT, adquiri bottons, fui a uma passeata, e fiz tudo isso numa época em que eu sequer era obrigado a votar. Fiz por burrice, porque eu queria me enturmar e achava bonito. E eu tenho vergonha disso, ué? Como é que uma pessoa não sente vergonha do que fez de errado e ainda tem a pachorra de arrotar na minha cara que eu não tenho o direito de reclamar por sentir vergonha de ter errado junto com ela? Que porra de inversão é essa? Onde mora a culpa e o arrependimento pra esse pessoal? Isso é uma mentalidade criminosa.

Quantas novas experiências socialistas vamos ter que engolir pra nos darmos conta de que socialismo é um erro, uma monstruosidade? – QUE NUNCA DEU CERTO EM LUGAR NENHUM.

Sigo cheio de dúvidas, mas de uma coisa eu tenho certeza: podem quebrar o planalto – se programarem uma bicuda no Dilmão, me liguem – mas não serão os fãs do Alan Moore, nem o PSTU, nem o PSOL, nem os petistas ocultos que vão me fazer acreditar no velho discurso “por um mundo melhor”. Vão se foder. Isso é balela. Isso é cometer um erro estúpido após o outro. Nego que aparece com essa retórica pra mim já nasce desacreditado. Pra mim, né?, que já to macaco-velho de ver esse tipo de potoca sendo metodicamente repetida. Pra mim o melhor vídeo do século XXI é o povo vaiando a Dilma e os otários do PSTU. E que se fodam os revolucionários de diretório.

Mas e os vândalos, esses imbecis? O que dizer desses filhos da puta? Uma bala de borracha melada no molho de pimenta é pouco pra enfiar no cu desses patifes. Alguém acredita quando eles se dizem apenas incendiários sem ideologia? Alguém acha que um cara que sai de casa encapuzado, portando explosivos, é só um indócil fã de Alan Moore? Vocês acham que eles aprenderam a se articular globalmente e a fabricar coquetéis molotov meditando o cogito cartesiano? – o anarquismo é um filhote do movimento revolucionário. Uma cria rebelde que hoje tem duas cabeças: de uma lado espanta quem está no poder, e do outro joga o povo contra o povo. Será que o dono de um boteco fica feliz com os manifestantes depois de ver seu estabelecimento depredado? E o pior, qual o descontente que vai ter coragem de dizer que a depredação é ruim durante uma ameaça de morte? Depois vejamos o destino dos caras do ETA e alguns ex-anarquistas daqui: suicidas, terroristas, picaretas e mercenários úteis a golpes de estado. Enfim, depois que a revolução vira situação, a natureza se encarrega de empacotar esses miseráveis. O fim desse surgimento de anarquistas é um só – e velho conhecido: qualquer merda, contanto que não seja à direita “disso tudo que está aí”.

É ESSA A IDEIA DE DEMOCRACIA DESSES FILHOS DA PUTA.

O “capitalismo” e a “direita reacionária” continuam a ser os inimigos prediletos. É a reiteração de um velho slogan que veio pra camuflar o óbvio: a expressão “isso tudo que está aí”, hoje, é a velha esquerda de ontem. Como esconder esse fato? Como tem gente acreditando nesses caras?! Temos no poder uma ex-Palmares, temos espalhados pela política vários ex-membros do MR-8 (se é que nisso existe dissidência, ou só uma mudança cômoda de nomes…)

Incensar esses caras quando um deles tá na presidência e outro na prefeitura do epicentro das manifestações, pra qualquer um que tenha resquícios de saúde mental, é um caso evidente de dissociação cognitiva completa. Talvez seja caso de doença. Fazer esse tipo de associação é um equívoco muito mais pesado que cometer um simples erro de julgamento. É diferente de não conseguir interpretar o mundo ao redor. Vi pessoas proferindo isso e elas não me pareciam autistas, ninguém me parecia sob hipnose. Elas falavam sério. É caso de burrice doentia mesmo. Uma sugestão sedenta de mundanidades completamente vãs. É aquele nível de dissociação que pode vir a se manifestar na esfera criminal, onde vão parar os casos mais canhestros de mentiras e erros de julgamento. Pra essas pessoas a sunguinha de crochê, o sapo barbudo e os larápios que assaltaram o Ademar de Barros não são pessoas reais que se alternam no poder há vinte anos. Pra essas pessoas esses sujeitos são fantasmas heróicos dentro de uma epopéia. Os erros, sequestros e matanças que eles cometeram antes são tragados pelo bem que nos fizeram. Qual bem? O bem de ter 100.000 homicídios todo ano. De ostentarmos a terceira e a décima capitais mais violentas do mundo (Teresina e Belém). Da desistência do plano de ligar o país com malhas ferroviárias só pra alimentar a indústria de automóveis. Do risco-país ser flagrantemente rebaixado por uma cultura arraigada de corrupção. O bem de darmos asilo político a mercenários e integrantes das FARCS. É esse o final da tal epopeia revolucionária que esse pessoal, ao mesmo tempo que protesta, aplaude!

Veja você que por muito, mas muito menos que um mensalão o Collor passou de Presidente da República pra office-boy do PT.

Mas depois os autocitados donos da revolução vêm dizer que eu não tenho planos “pra mudar o país”, enquanto que eles estão tendo mais exposição na mídia que o Neymar. Bem, o que eu posso fazer? Nunca deram espaço pro debate democrático. Na faculdade nunca ouvi falar em José Ortega y Gasset. A vida inteirinha fui estimulado a pensar como um esquerdista, induzido a crer que “direita” era algo relacionado a Hitler ou párocos severos tipo o Plínio de Oliveira. Aliás, as pessoas que ousavam falar de Deus na faculdade eram rechaçadas por meio de desprezo e deboche. Inclusive por parte de alguns professores. Numa cultura como essa, é impossível cobrar atitude organizacional política de um simples cidadão como eu, que tem contas a pagar com a divindade todos os dias depois das 10 da noite.

Mas ainda assim eu teimo em arriscar um plano, um velho plano de mais de 2.000 anos que atende pelo nome de Democracia. É. Mas a democracia que eu falo não são partidos de esquerda se digladiando pelo poder – isso é totalitarismo disfarçado. E pro Brasil sair dessa lama só tem um jeito, e vai demorar MUITO, chuto uns 30 anos ou mais. Mas sobre isso prefiro comentar num próximo post, já to ficando cansado pra desenvolver um novo assunto.

Prefiro continuar analisando o outro lado, o plano desses filhos da puta. Até agora só se ouviu acusações vazias contra a “direita” e nenhum pleno factível de mudança além da redução de vinte centavos no bonde. Sinceramente, é preciso fazer esse esforço pentelho de análise que eu tô fazendo pra concluir idiotamente que, por trás dessas inúmeras reivindicações, o “plano mirabolante” desses caras é pôr outro filho da puta, da mesma esquerda uspiana, nos poderes legislativo e executivo.

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 Eis Pedro Henrics, talvez você já o tenha visto dando entrevistas por aí. Ao mesmo tempo que ele tenta se por em posições de liderança da juventude, promove jantares com ex-mensaleiros. PESQUISE MAIS, OBSERVE QUEM ASSUME OS MICROFONES, HENRICS É SÓ MAIS UM EXEMPLO.

E o que esse plano maravilhoso do Henrics e dos anarquistas tem de original? O uso das novas tecnologias? Coquetéis molotovs? O facebook? Ora porra! Isso não tem nada de novo! Os caras tão fazendo a mesma coisa desde 1992 quando tiraram o Collor de Brasília praticamente na base da bicuda! Esse é o processo de renovação sistemático da esquerda no poder. É a cobra trocando de pele. Foi assim vinte anos atrás, vai ser assim agora.

O judiciário não precisa de revoluções porque já está minado de antemão pelas faculdades de direito – de inspiração foucaultiana e paulo-freiriana – que expelem esquerdóides paramentados a toque de caixa: 15.000 todo ano.

O tal do quarto poder, a mídia e o meio artístico, esse simplesmente dispensa comentários. A quantidade de simbologias e sacrifícios de inspiração oculta que são despejados pela indústria cultural é um troço simplesmente inacreditável pra quem já teve os olhos treinados. Num post futuro penso em escrever sobre o Gatsby, e eu vou falar de uma visão dessas de foder que passou despercebida pelo povo que tava na sessão. Eu saí desacreditado do mundo, sério.

Falando em sacrifício de inocentes, você leu algum jornalista se posicionando a favor do Estatuto do Nascituro? Não. Nem vai ver. Quem dá as cartas na imprensa são os mesmos esquerdistas uspianos, agregados da PUC e demais conchavados. É o caso da socióloga Débora Diniz (que Deus me livre não seja minha aparentada). A doutora Débora, em suas publicações, posa como uma dessas mentes científicas que sustenta que o feto humano é um “punhado de células” – assim, tão desforme quanto as massas que ela gosta de manobrar. Quando o feto sai da mãe, pergunto, ele é um punhado de celulas deformadas? É preciso chamar a dona Débora pra ela dar forma humana ao “punhado de células” que a mãe pariu? Esse pessoal adora dar essas opiniões absurdas, que de científicas não têm nada a não ser a retórica pedante.

Esse mesmo pensamento, quando chega às mãos de um assessor de imprensa ativista, vira o que eu apelido de Potoca Compartilhada. Já desmascaramos uma aqui, agora vai mais essa pérola, veja lá:

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“Vítima de pedofilia é obrigada a suportar gestação de alto risco” – montagem retirada do blog abortista da Lola Aronovitch.

 Agora vá até as “disposições finais” do Estatuto do Nascituro: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=443584&filename=PL+478%2F2007

Veja com seus próprios olhos que o estatuto altera as penas dos arts. 124 e segs, mas não menciona em canto nenhum o artigo 128 do Código Penal, cujas linhas finais AUTORIZA A MULHER ESTUPRADA A ABORTAR O FILHO.  Trocando em miúdos: O ESTATUTO DO NASCITURO NÃO DESAUTORIZA A ESTUPRADA A ABORTAR O FRUTO DO ESTUPRO.

Isso tá em lei, meu filho. Você acha que o manipulador esquerdista que começou com essas montagens ignora isso? A Clara Averbuck teve a cara de pau de mostrar num “adendo II” que reconhece que o art. 128 foi mantido. Ainda assim começou o post tentando apelidar o estatuto de “Bolsa Estupro”. É muita cara de pau! Clara Averbuck é aquela idiota que foi corneada pelo marido num reality show e agora paga de escritora revolucionária. Vá se foder, Clara! Você é uma mentirosa, uma aventureira patifa.

Alguém ainda acha que o movimento revolucionário é cheio de boas intenções acima de tudo? Se existe alguém então me explique esse desejo oculto de nos induzir a crer que aborto é uma coisa boa. Ou melhor, explique-me por que alguém ESPALHA UMA MENTIRA PRA SUSTENTAR UMA TESE DE MORTE? Pelo “mundo melhor”?

Finalmente, quero dedicar esse texto a meus exíguos leitores como uma mensagem de alerta e cuidado. Não quis mais me calar diante dos fatos que chegam até nós a todo instante. Não deem ouvidos a esses filhos da puta. Protestem pelo caralho a quatro, quebrem o cu da Dilma, mas mandem esses filhos da puta se foderem pra bem longe. Observem quem vai surgir – porque VAI surgir um novo idiota eleitoral.

Quando o maluco chega com esse papinho de Feliciano, aborto, com certeza é um doutrinado insensibilizado com vagas pretensões artísticas (99% dos casos) – o cenário artístico é a propaganda-mestra. Você ouvia falar que os artistas dos séculos passados eram tão atirados à maluquice, ao louquismo, ao hedonismo barato? Eram excêntricos, evidente, mas Blake, por exemplo, que hoje é tomado como poeta-mor dos louquistas, era um recluso com ideias teológicas elevadíssimas. Não se engane com o ideal de vida ‘rock’n roll’ desses playboys culturais que pululam na mídia, isso é pura viadagem de vítimas de manipulações mental. E é isso que esses caras são: vítimas inermes. E nós todos estamos indo pro mesmo buraco. Nos casos mais perigosos, mais escorregadios e difíceis de identificar, esses idiotas viram Claras Averbucks, ou seja, manipuladores graduados na arte de foder a mente do interlocutor com dubiedades e mentiras. Do contrário, pense bem, porque alguém seria tão veemente na defesa de algo contra a vida? Quais são as intenções de alguém que SOBREVIVE de ocultar e variar projetos de lei?

Tamanho macho cheio de filho querendo induzir os outros a acabarem com os seus. Que caralho é esse? Mande se foder automaticamente, sem piedade. Você não vive num tribunal, matar alguém não pode ser objeto de ponderação, de jeito nenhum, a não ser que esse alguém ameace a sua própria vida. Observe a história recente: esses louquistas, abortistas, putistas de hoje, são os dinheiristas, progressistas e ladrões de amanhã. Nós estamos assistindo esse movimento há 50 anos! Olhem a cara do Zé Dirceu!

Nos anos 70 a minha madrinha foi colega de um bicho-grilo que adorava passar o dia fumando um baseado. Ela o conheceu num congresso em João Pessoa. Ele parecia um inofensivo estudante de contabilidade, dado a movimentos de esquerda, a coisa mais normal do mundo. O primeiro furto de boa monta que ele cometeu foram colchões de uma das casas que o grupo tinha deixado. TODOS os colchões. Descobriram quem foi e acharam melhor excluir aquele idiota do próximo aluguel. Mas trinta anos depois ele reapareceu mais rico que todo mundo junto, figurando em todos os jornais: tinha virado tesoureiro do PT, o seu Delúbio Soares.

Vou descrever aqui dois princípios fundamentais que não saiam da minha cabeça por dias. Pensei em descrevê-los numa parábola com uma repórter insensível e um simples operário, mas acabei descobrindo, numa aula, que foram inspirações que devo ter herdado da consciência antiga. Não creio que profundas semelhanças com um princípio da ética romana (HONESTA VIVERE) sejam meras coincidências ou fruto de uma pretensa originalidade. Algumas coisas que parecem tão simples são tão arraigadas em nosso caráter, há tanto tempo, há tantas gerações, que é muita pretensão dissociá-las da sabedoria antiga. São elas:

1 – Mantenha sua saúde em dia; 2 – trabalhe honestamente.

Se o sujeito aparecer com um papinho que induza você a não fazer isso, ou que o induza a praticar o contrário a terceiros, É TRETA.

– by conselhos do He-man –